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Pandemia: isolamento físico e colaboração social

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A pandemia provocada pelo novo coronavírus evidenciou duas grandes fragilidades da sociedade: o hiperindividualismo e a crença na sociedade de mercado que não distingue lucro de espoliação sem limites éticos. Os seres humanos estão enfrentando uma crise sanitária de dimensões ecológicas planetária. Independentemente de tudo o que historicamente tem fracionado a humanidade, vivemos um momento em que nossa capacidade de cooperar e agir democraticamente está sendo colocada à prova. Ou cooperarmos ou corremos sérios riscos de sobrevivência como espécie.

Ao que tudo indica, essa pandemia parece ser o aviso de que outros eventos, tão ou mais graves quanto esse, são uma possibilidade real. Não precisa ser profissional da saúde para saber que a maneira mais eficiente para conter a propagação de um vírus é deter sua circulação entre as pessoas. Só isso pode diminuir o número de infectados. Em função disso, tem-se falado tanto em isolamento e distanciamento social. A crise provocada pela Covid-19 acabou por nos mostrar, de forma cruel, a fragilidade de nossas relações com nós mesmos e com o outro.

Ressalto que usar máscara, evitar sair de casa, lavar as mãos, evitar aglomeração, são atos sociais e não distanciamento social. Essas ações pontuais são fundamentais. No entanto, há que darmos um passo fundamental, qual seja, promover a colaboração e a cooperação social. Promover o isolamento físico entre as pessoas, mas não o isolamento social. Talvez a grande dificuldade para as pessoas entenderem a cooperação e a colaboração social se deva ao fato de que cooperar e colaborar, nesse momento, significa, justamente, evitar, fisicamente, o outro. É em função disso que os efeitos da Covid-19 estão condicionados a nossa disposição em cooperar, em colaborar. Agora colaborar com o outro significa afastar-se fisicamente dele, mas não espiritualmente.

Estamos frente a um desafio colossal: ou colaboramos ou os efeitos dessa pandemia serão mais devastadores do que já estão sendo. O afastamento e o distanciamento social são da ordem do corpo, do físico. Já a cooperação e a colaboração social são da ordem do espírito, da alma. A cooperação e a colaboração social significam que (1) devemos cuidar de nós mesmos, para cuidar do outro; (2) respeitar a nós mesmos, para respeitar o outro e (3) amar a nós mesmos para amar ao outro. Em momentos de grande sofrimento das pessoas, como o atual, a cooperação e a colaboração social é o que poderá fazer a diferença entre a vida e a morte para milhares de pessoas. Para o coronavírus, não faz nenhuma diferença o que fizermos ou deixarmos de fazer. Ele não tem nenhuma consciência sobre o que acontece. Ou respeitamos, escutamos e amamos a vida do outro ou continuaremos incentivando o hiperindividualismo, a acumulação econômica e a espoliação do ser humano sem limite ético. Isso nos levará, inevitavelmente, à extinção como espécie, com ou sem pandemia. A Covid-19 simplesmente tornou explícito nosso modo de viver que não reconhece o outro como merecedor de nosso respeito, generosidade e solidariedade. O outro não é visto como merecedor de nosso amor.

Nós, humanos, somos os únicos seres vivos que podemos agir de forma consciente para diminuir o desastre que a pandemia poderá significar para a convivência futura, se ela houver. Portanto, o único remédio que poderá nos proporcionar o conviver democrático e fraterno é a emoção do amar ao outro. Só o amor é capaz de promover o bem-estar entre os seres humanos e as demais formas de vida nessa biosfera tão maltratada ecologicamente. A boa notícia é que esse remédio não é propriedade de nenhum laboratório transnacional, nem do mercado. Está à disposição sem custar um centavo. Esse remédio, o último que nos resta, é a emoção que nos faz animal e humano. A emoção do amor.


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